Academias de São Paulo não são mais obrigadas a exigir exame médico
de novos alunos ou renová-lo após seis meses. A regra, que era válida
até o dia 9 de janeiro, foi modificada pelo vereador licenciado Antonio
Donato (PT) e promulgada pelo presidente da Câmara Municipal, José
Américo (PT). Se por um lado alguns alunos comemoram uma etapa a menos
na hora na matrícula, por outro os médicos criticam a mudança.
A partir de agora, só precisarão fazer exames alunos que estão fora
da faixa etária entre 15 e 69 anos. Os demais só serão obrigados a
responder um questionário com perguntas relacionadas a problemas ósseos,
nas articulações, circulatórios e cardíacos. Caso haja suspeita de
alguma doença ou complicação, a academia pode encaminhá-lo a um
especialista, mas não é obrigada a assumir qualquer responsabilidade.
Incentivo à prática de exercícios
A justificativa para apresentar o projeto foi de que a obrigatoriedade do exame médico faz com que os alunos percam o incentivo às atividades físicas em academias e optem por exercícios em casa ou ao ar livre, o que pode causar mais danos à saúde. A iniciativa, porém, divide opiniões entre alunos, instrutores e médicos.
“Nós ficamos muito felizes com a mudança. Acredito que não existe
lugar melhor e mais seguro para praticar exercícios físicos do que
dentro de uma academia. O grande risco é comprar uma revista e treinar
sozinho, sem orientação de um profissional ou descer no condomínio e
treinar em três ou quatro equipamentos por conta própria. Esse é um
lugar com profissionais treinados para orientar os alunos”, defendeu
Peter Thomas, diretor da Runner.
Para ele, a obrigatoriedade servia como
tática para “capitar clientes para consultas”. “A gente recebia
atestado de oftalmologista, ginecologista e outros profissionais que não
são especializados em condicionamento físico. Era uma lei muito fácil
de ser burlada”, disse.
Frequentador assíduo de academia, o designer Paulo Brandão, de 26
anos, não gostou da novidade. “Independente de a pessoa praticar ou não
exercícios físicos, ela precisa se consultar com um médico para ver se
está tudo bem”, opinou. Ele pratica musculação todos os dias e não abre
mão de fazer avaliações sempre que preciso.
Diferentemente de Paulo, o publicitário Leonardo Novaes, de 24 anos,
que também não fica um dia sem fazer musculação, acha que essa é uma
barreira a menos para os alunos. “O exame médico nunca serviu para nada,
boa parte das academias só o exigia quando o aluno se matriculava.
Avaliações mais completas que medem os níveis de gordura e tamanho dos
músculos são mais úteis e efetivos para quem faz musculação”. Para ele, o
fim da obrigatoriedade só coloca em prática o que já acontece nas
academias porque “ninguém se importa com o exame médico”.
Doença silenciosa
Preocupados, profissionais da
saúde criticam a medida e alertaram para “doenças silenciosas”, que
podem causar um ataque cardíaco durante a prática de exercícios. “No
consultório, você faz um exame clínico, vê as condições do paciente. Se
necessário e dependendo da idade, são realizados alguns exames como o
eletrocardiograma. A maior incidência de infarto é aos 65 anos, então
liberar pessoas entre 15 e 69 anos é muito preocupante”, justificou
André Negrão, clínico geral e cardiologista do Hospital São Luiz, em São
Paulo
Por isso, ainda que alguns alunos comemorem a facilidade do
processo, médicos são contra as mudanças, principalmente para pessoas
sedentárias, que resolvem se exercitar depois de muito tempo. “Mesmo se
for apenas uma caminhada, ela gera um grau de energia capaz de flagrar
uma doença no coração. As doenças cardíacas são silenciosas”, alertou o
cardiologista.
“É importantíssimo realizar o exame médico no consultório para
adequar o estado da pessoa com a atividade física. Todo exercício
precisa ser monitorado. Já vi algumas tragédias em academias. Eu me
lembro de um rapaz jovem que enfartou enquanto fazia exercícios. Desceu
para o vestiário com dores e acabou tendo uma parada cardíaca”,
relembrou André. De acordo com ele, isso é mais comum de acontecer do
que a gente imagina.
Fonte: Terra
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