O
conhecimento sobre o efeito da atividade esportiva na vida de uma criança é,
muitas vezes, ignorado porque, com raras exceções, o esporte está nas mãos de
pessoas cuja competência é questionável.
É senso comum acreditar-se que o
esporte ajuda a criança a aprender a lidar com os problemas que a esperam na
vida adulta, sendo assim, um instrumento que dá oportunidades à mesma de
resolver seus conflitos psicológicos na fase do crescimento.
Porém,
a criança possui particularidades que devem ser respeitadas, como sua tendência
em ver os pais e outros adultos (professores e técnicos) como sendo infalíveis,
sendo que, estes adultos, em muitos momentos, não se preocupam realmente em
questionar os valores éticos da competição e o bem estar psicológico para estas
crianças.
A
incapacidade de uma criança atleta em atender com sucesso à demanda da
performance em uma situação competitiva, pode resultar num sentimento de
incompetência e de falha, que ameaça sua auto estima e contrasta com seu
egocentrismo (principalmente, sua inabilidade de distinguir entre sua própria
perspectiva dos eventos com a dos outros);
Comportamentos
opressivos, reguladores e autocráticos dos pais, treinadores e professores, podem
fazer com que as crianças sintam-se ameaçadas, causando um alto índice de
stress nas mesmas.
Ainda segundo o senso popular, através
de esportes organizados, a criança experimentaria os estados emocionais
associados com a vitória e a derrota, através da exposição aos conflitos
inerentes.
O esporte também confrontaria a criança
com a escolha do certo e errado, honestidade ou desonestidade. Ainda nesta
visão, o esporte propiciaria o aprendizado que poderia permitir à criança
experimentar o stress progressivamente sem sofrer as conseqüências associadas
com a passagem abrupta para a vida adulta
Mas,
segundo Piaget, o desenvolvimento da moralidade acontece normalmente em todas
as crianças, a não ser que este desenvolvimento seja influenciado por um
comportamento anormal de extrema coerção ou por privação de experiências
advindas do seu convívio com seus colegas de mesmo estágio cognitivo.
Cabe
ainda, ressaltar que o stress gerado pelo excesso de cobrança e pressão por
resultados em uma competição esportiva, poderiam causar frustração por parte da
criança, bem como o abandono e a rejeição de se envolverem em qualquer atividade
física futura.
Coelho,R.W.; & Coelho, Y.B, em seu artigo “Estudo comparativo entre o nível de stress de crianças
envolvidas em diferentes esportes organizados e em atividades físicas
competitivas informais” apontam que
talvez, o mais indicado, seria que a competição fosse introduzida progressivamente
na vida da criança, começando contra seus próprios índices de performance, ou
seja, a competição se processando com ela mesma.
Em um estágio seguinte, ela competiria
com os índices médios do grupo a que pertence, dentro de seu próprio ritmo.
No terceiro estágio, sua participação
aconteceria em atividades coletivas onde ela divida as responsabilidades de
performance. Só após essa preparação, a criança seria levada a participar de
atividades desportivas individuais ou individuais de contato.
Acredito que somado a estes aspectos
sugeridos pelos autores, devemos também, levar em conta o caráter lúdico que
medeia a ação das crianças em todas as atividades por elas exercidas. De acordo
com Gouvêa:
“Em suas atividades, a criança
empresta-lhes um sentido que não está na objetividade dos resultados buscados
pelo adulto, mas no prazer de sua execução.”
GOUVEA, Maria Cristina Soares de. (2003)
Infância, sociedade e cultura. In:CARVALHO, Alysson. et al. Desenvolvimento e
Aprendizagem. Belo Horizonte: Editora UFMG.
Desta forma, as pessoas envolvidas no
treinamento esportivo de crianças deveriam, no meu entender, buscar também, em
cada um dos estágios sugeridos deste treinamento, novos sentidos e formas, de
modo que elas consigam se apropriar dos movimentos e saberes de cada esporte de
forma gradual e divertida para os mesmos.
Não
podemos exigir que as crianças ultrapassem suas possibilidades e, se apropriem e
internalizem os conteúdos dos treinamentos segundo um padrão. Devemos sim,
despertar nas mesmas o desejo e a curiosidade pelos estágios seguintes.
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